Page 38 - UM SINAL NA HISTÓRIA
P. 38

Um Sinal na História“Nessa época, pela legislação, éramos da categoria bancária,
     e nossos reajustes eram aqueles que vinham do Banco do Brasil.
     Depois veio a tese da equiparação, nessa época a gente corria atrás do
     Banco do Brasil. Então falamos, ‘bom, o pessoal vai entrar em greve. Se
     isso acontecer, a gente vai se manifestar’. Eram discussões clandestinas,
     se abríssemos a boca publicamente estaríamos demitidos. Fizemos um
     documento, um panfleto, assinado ‘Comissão dos Funcionários’ ou
     ‘Comissão Aberta’, não lembro ao certo. Só que não sabíamos como
     panfletar, como fazer para chegar na mão do pessoal. Decidimos o seguinte:
     começou a greve, deixamos tudo preparado e espalhamos pelos banheiros.
     O Banco Central de São Paulo tinha uns banheiros bem grandes, com pias
     enormes, bem espaçosos. Conseguimos organizar duas pessoas em cada andar,
     um homem e uma mulher. Marcamos às 16h15, no intervalo do lanche previsto
     em lei. ‘Todo mundo vai ao banheiro, deixa os panfletos lá e volta para a sala,
     como se nada tivesse acontecido’. Foi um tumulto, o Banco ficou doido atrás de
38 quem tinha feito aquilo. Houve situações muito engraçadas. Houve um lugar em
     que o primeiro colega pegou e jogou no lixo, outros deixavam lá, e sempre chegava
     um e pegava. Tinha gente que pegava e dizia: ‘olha o que eu achei no banheiro’, e
     distribuía. E a gente não podia revelar nada, tinha que assistir com cara de paisagem.
     Quando a Direção do Banco começou a saber, eles ficaram desesperados, não sabiam
     o que fazer. Eles não imaginavam que a gente tivesse a ousadia, dentro do Banco
     Central, naquela época, de promover movimento sindical”.

            Edison Cardoni ressalta a importância de se considerar o momento político do país
     àquela época: “O que estava acontecendo não era só dentro do Banco, era um momento
     nacional. Havia um afluxo da classe trabalhadora por liberdade de organização, expressão e
     reivindicação, por aumento de salário, por condições de trabalho”.

            Foi nesse contexto que surgiu, no fim da década de 1970, o jornal OVO - Jornal livre e
     aberto dos funcionários do Banco Central-SP, criado por um grupo de funcionários da regional do
   33   34   35   36   37   38   39   40   41   42   43