Page 43 - UM SINAL NA HISTÓRIA
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Por outro lado, havia uma contestação por parte de alguns funcionários, que qualificavam o
OVO SP como “jornal comunista”. O país vivia em plena ditadura militar, a repressão era forte,
e muitos funcionários tinham medo de qualquer envolvimento com a publicação, evitando até
mesmo recebê-la. A distribuição do jornal – ou de qualquer conteúdo similar – era expres-
samente proibida pela Direção do Banco. Aqueles que apoiavam a iniciativa, nas diferentes
regionais, tinham que se arriscar para que o jornal circulasse.
“Havia uma estratégia de distribuição da publicação que denotava o ambiente hostil
e perigoso da época. Em uma hora previamente combinada, entrávamos nos banheiros e
deixávamos lá vários exemplares, que iam parar nas mãos daqueles que tivessem interesse
em lê-lo ou recolhê-lo”, observa Mário Getúlio Vargas Etelvino, funcionário da regional de
Belo Horizonte (MG), que ingressou no Banco Central em 1978.
Além de reverberar as demandas dos funcionários, o OVO SP também servia 43
para defender seus interesses em situações de confronto com as chefias. Uma das
campanhas do jornal foi em solidariedade a Francisco de Paiva Amorim, o Peninha, Movimentos políticos e reivindicatórios dos funcionários do Banco Central
que entrou no Banco Central em 1970, como prestador de serviços terceirizados, e
em 1976 tomou posse como conferente de numerário, após passar em concurso no
ano anterior. O funcionário era bastante popular no Banco por seu envolvimento
com o atletismo, e por incentivar os colegas a aderirem à atividade física. Alguns
deles passaram até mesmo a acompanhá-lo em corridas de rua. Em algumas
delas, Peninha fazia propaganda do OVO na camisa.
Envolvido também com a distribuição do OVO SP dentro do
Banco, na regional de São Paulo, Peninha se viu no meio de um processo
administrativo – o qual, segundo a percepção do funcionalismo e dele
próprio, foi motivado por sua colaboração com a publicação.
“Essa panfletagem significava fazer um pouco de oposição ao
Banco Central, e eles me viam como uma pessoa assim. Não era pre-