Page 120 - UM SINAL NA HISTÓRIA
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Um Sinal na HistóriaEdison Cardoni lembra que a AFBC decidiu criar o boletim
semanal Correio dos 19, não apenas para divulgar informações sobre
a situação dos 19 funcionários e outros assuntos, mas também para
mantê-los ativos. “Teve gente que ficou numa situação pessoal muito
difícil. Então nós fizemos o seguinte: os demitidos têm que cumprir
o horário de expediente na AFBC. Éramos proibidos de trabalhar, não
podíamos entrar no Banco, tinha gente que assinava o ponto do lado de
fora. Então a ordem era: assina o ponto e vai para a AFBC”, explica Cardoni.
Durante o processo de inquérito, os funcionários eram questionados
pelos membros da Comissão sobre a organização da greve, com o objetivo
de conseguir nomes de quem deu ordem para iniciar a paralisação. Segundo
Cardoni, os 19 seguiram a linha de dizer que “ninguém propôs nada, que
ninguém organizou nada, que foi tudo espontâneo”.
120 “Os caras ficaram em desespero, porque eles queriam que a gente falasse.
Se um de nós dissesse, [quem propôs a greve] seria condenado, porque era inci-
tação à greve. Então se alguém dissesse que fulano ou beltrano defendeu a greve,
pronto, esse cara estava condenado, porque era proibido”, analisa Edison Cardoni.
Naquele momento, havia também uma efervescência de movimentos do
funcionalismo contra as medidas tomadas pelo governo, em especial a decisão de
congelar a URP. Esse quadro incentivou a mobilização da AFBC, que atrelava a luta
contra o governo à defesa dos 19 demitidos do Banco. As regionais mobilizavam-se na
busca por apoio de parlamentares, em especial dos integrantes da Assembleia Constituinte.
E o Correio dos 19 disseminava as informações e incentivava a participação de todos.
“As demissões no Bacen não são um problema só nosso. Por um lado, elas dizem respeito a todos
os trabalhadores de todas as estatais: se elas não forem revertidas, os funcionários não terão segurança para
entrar em movimento e lutar por suas reivindicações. Por outro lado, em respeito ao conjunto das entidades