Page 191 - UM SINAL NA HISTÓRIA
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Um Sinal na Históriaimpério da ordem sobre todos os aspectos e as normas proibitivas
somavam contrariamente a uma perspectiva sindical.
Mas cada realidade tem muitas faces que convivem
simultaneamente, enriquecendo a vida. Aquele período também. Além
do movimento estudantil que já havia ganho as ruas, os operários já haviam
feito greve, como a da Mercedes Benz, até mesmo sem a participação
do sindicato dos metalúrgicos, que iniciaria o movimento operário.
Internamente ao BCB, muitos servidores que ingressaram em 1977 vinham
com experiência nova de vida, o que levava a atitudes díspares com a realidade
original no Banco Central. Muitos que já estavam na instituição, embora ainda
não tivessem se organizado em ações coletivas, estavam saturados da ordem
existente e manifestavam inquietudes. Um segmento vinha acumulando críticas
a uma dada situação de imobilidade funcional. Outros traziam experiência política
190 da vida estudantil e não estavam dispostos a se dobrar a uma ordem tão contrária
a liberdade. Alguns traziam, como eu, experiência de participação em partidos
políticos clandestinos que lutavam contra a ditadura militar. Tudo somado dava
ânimo e confiança de que estava no ponto para uma iniciativa política mais arrojada.
Criamos um objetivo claro e determinado: construir o poder político dos servidores
do Banco Central, por meio de uma organização de caráter sindical.
Fundamos o jornal chamado OVO, embrião de entidade sindical. A experiência
foi muita rica, envolvente, gratificante. O Brasil se interagiu por meio do jornal, quase
entidade. Fui um dos cinco dirigentes do jornal-entidade, em toda a existência dele. Todas
as reivindicações possíveis do interesse dos servidores do Banco Central eram cabíveis
no jornal; não precisávamos ser beneficiados por uma eventual conquista para nos colocar
firmemente em sua busca. Nosso propósito era precisamente político. O jornal – embrião de
entidade sindical – foi reconhecido e apoiado por muitos que passaram a se sentir, e de fato