Page 178 - UM SINAL NA HISTÓRIA
P. 178
Um Sinal na HistóriaNós o líamos em um só fôlego, discutíamos e traçávamos
estratégias para replicação das idéias. É preciso imaginar hoje a
força e o impacto que a leitura daquelas poucas folhas provocaram:
identificação, sentimento de pertencimento, motivação, chamado
coletivo.
Atendemos com determinação a esse chamado. Num ambiente
cultural e administrativamente inspirado pela ditadura como aquele
não era tarefa fácil a discussão ou distribuição: vivemos longa e fértil
experiência motivada pela justeza da causa e pela força que vinha da
adversidade. Era uma atividade “clandestina”, tínhamos que cumprí-la de
178 forma a não chamar a atenção de chefes, seguranças, colegas ideologicamente
comprometidos com o “outro lado”. Percorrer todos os andares do edifício
sede, subindo pelas escadas, escondendo em lugares estratégicos os pacotes do
jornal ou de convocações para reuniões não era tarefa fácil; exigia disposição,
comprometimento, desprendimento mas, sobretudo, um sorriso nos lábios, o
bom humor, uma palavra de encorajamento àquele colega essencial, que distribuía
o jornal em seu departamento, discutia e nos trazia o feedback. Era um trabalho de
formiguinha, necessário para a sedimentação do alicerce das obras que permaneceram,
apesar das intempéries que os tempos da ditadura nos impuseram. A emblemática frase
de Che, “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, aplicava-se perfeitamente à
nossa filosofia.