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resenha Leda M. Paulani1 (*)
“Brasil Delivery”
Daniel Martins1 bastando para tanto depositá-los em moeda doméstica na conta
de uma instituição financeira não-residente. Formalizada a aber-
O livro “Brasil Delivery”, de Leda M. Paulani, tura financeira, impunha-se a necessidade de resolver o problema
é um daqueles verdadeiros achados de eco- inflacionário. Assim, ainda no governo Itamar, surge o Plano Real,
nomia política e poesia pau-brasil degradada. que catapulta Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fa-
Com tino oswaldiano para farejar a asneira zenda, para a Presidência da República. Ele resolve o problema que
reveladora, a economista e professora reuniu, impedia praticamente o funcionamento do país como plataforma
em 145 páginas, uma série de artigos por ela de valorização financeira internacional.
escritos entre 2003 e 2005 (com exceção do posfácio, elaborado em
novembro de 2007) para dar conta da situação criada com a eleição de A abertura da economia, as privatizações, a manutenção da so-
Lula e com as escolhas feitas por ele para governar o país. A expressão brevalorização da moeda brasileira, a elevação inédita da taxa real de
“delivery”, neste contexto, carrega em si uma crítica embutida. Quem a juros, tudo passou a ser justificado pela necessidade de preservar a
consagrou foi o ex-secretário de Relações Internacionais do Ministério estabilidade monetária conquistada pelo Plano Real.
da Fazenda Otavio Canuto, ao afirmar ser esta a palavra da moda: “A
gente está prometendo e está entregando”, disse o “motoboy de luxo”. É no mesmo contexto que se deve analisar a edição, em maio de
Mas entregando o quê, afinal? Por que o britânico Financial Times e 2000, da Lei Complementar n° 101 – Lei de Responsabilidade Fiscal
outros jornais passaram a dizer que “o Brasil virou moda em Wall Street” (LRF), dispositivo que acabou por estabelecer uma hierarquia nos
e que, para os investidores estrangeiros, “Lula é um bom negócio”? gastos públicos e que coloca em primeiríssimo e indisputável lugar
Para responder à questão, a autora desenvolve um arcabouço racional o credor financeiro, em detrimento da alocação de recursos com fins
e uma necessária contextualização histórica. distributivos (políticas de renda e políticas públicas de modo geral) e
da viabilização de investimentos públicos.
O livro faz um resgate do início da década de 1990, primeiro ano do
governo Collor, a partir de quando passou a ser voz corrente a inescapável Os oitos anos FHC produziram, ainda, uma série de benefícios
necessidade de reduzir o tamanho do Estado, privatizar empresas estatais, legais aos credores do Estado e ao capital em geral. Em 2001, aprovou a
controlar gastos públicos, abrir a economia, etc. Collor não teve tempo Emenda Constitucional 37, que isenta da incidência de CPMF os valores
para pôr em marcha esse projeto – a não ser, muito timidamente, o pro- aplicados em bolsas de valores. Também passaram a ser isentas de
cesso de privatização –, mas a referida pregação ganhou força inegável Imposto de Renda a distribuição de lucros de empresas a seus sócios
e passou a comandar todos os discursos. brasileiros ou estrangeiros e a remessa de lucros ao exterior.
No governo Itamar, passam a ter lugar as primeiras mudanças de A conseqüência essencial dessa transformação é o aumento da
peso, a fim de preparar o país para sua “modernização” e inserção importância da previdência privada, que passa a ser necessária para
no circuito internacional de valorização financeira, o “maravilhoso complementar a futura aposentadoria. Mas a mudança implementada
mundo novo da globalização”. Por meio de uma alteração no fun- por FHC foi parcial, restrita aos trabalhadores do setor privado. Por
cionamento das contas CC5, feita sem o beneplácito do Congresso ironia do destino, coube ao governo Lula completá-la, estendendo as
(o que implica crime, visto que a mudança altera a lei federal de alterações idealizadas por FHC aos trabalhadores do setor público. Com
1962, que criou essas contas), o Banco Central abre a possibilidade as novas perspectivas de acumulação abertas pela entrada potencial
de qualquer agente remeter recursos em moeda forte ao exterior, de um enorme contingente de população assalariada, de renda média
razoavelmente elevada e sem enfrentar a ameaça do desemprego,
foram criadas as condições para o pleno desenvolvimento, no Brasil,
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