Page 161 - UM SINAL NA HISTÓRIA
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Como a imensa maioria da geração que criou o Sinal, cheguei ao Banco Central na década
de 1970, vindo diretamente do movimento estudantil universitário, que era um dos primeiros
segmentos da sociedade civil a se insurgir de forma organizada contra a ditadura militar
patrocinada pelo golpe de 1964. Passeatas e encontros promovidos pelas entidades e lideranças
estudantis se espalhavam pelas capitais brasileiras, com violenta repressão policial. Cheguei
bem no finalzinho dos anos 1970, em 1978, quando o regime autoritário já agonizava, com
o seu último general na presidência, o insurgente movimento estudantil nas ruas e as greves
nas montadoras da região do ABC paulista pipocando, com repercussão nacional na mídia.
Refletindo um quadro nacional de insegurança e medo, o ambiente no BC – uma
instituição criada sob a égide do regime militar – era tenso e autoritário, e foi nesse contexto
que começamos a dar os primeiros passos na organização sindical do funcionalismo da
instituição.
Toda a luta iniciou-se em torno da causa pela extinção da categoria isolada, 161
que contemplava cargos na instituição sem qualquer evolução ao longo do tempo, ao
contrário das carreiras administrativa e especializadas da época. Logo surgiu em São Movimentos políticos e reivindicatórios dos funcionários do Banco Central
Paulo um jornalzinho crítico e político chamado OVO, extremamente ousado para
a época, ainda mais dentro de uma instituição de cultura autoritária. Havia uma
estratégia de distribuição da publicação que denotava o ambiente hostil e perigoso
da época. Em uma hora previamente combinada, entrávamos nos banheiros e
deixávamos lá vários exemplares, que iam parar nas mãos daqueles que tivessem
interesse em lê-lo ou recolhê-lo. De São Paulo o OVO se expandiu para todo o
país e virou OVO Nacional. Daí ao encontro nacional de funcionários do BC
foi um pulo.
Politicamente o movimento dividiu-se, então, entre os que
reivindicavam a filiação dos servidores ao Sindicato dos Bancários (à época
pertencíamos ao regime celetista) e aqueles que defendiam a criação de
um sindicato próprio.
Por essa segunda corrente, veio, já no início da década de 1980,
a tentativa de criar a instituição já tão almejada, que foi a fundação da