Page 72 - Um Sinal na História - Volume 2
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Um Sinal na HistóriaElmo de Araújo Camões foi escolhido presidente do Banco
Central em março de 1988 pelo então Presidente da República, José
Sarney, de quem era amigo próximo. De acordo com a imprensa da
época, a nomeação de Camões foi bem recebida por empresários e pelo
mercado financeiro. O mesmo não se pode dizer pelos funcionários do
Banco. Já em outubro de 1988, nove em cada dez empregados do Banco
Central não o queriam mais na presidência, conforme aponta matéria do
jornal Tribuna da Imprensa da época.
A história de Elmo Camões no Banco Central teve inúmeras passagens
que podem ser consideradas bastante impopulares dentro da instituição. Entre
elas, algumas se destacam, como a chamada “quinta-feira negra”, quando a taxa
do overnight subiu para 50%, o que causou a queda das cotações das Bolsas de Va-
lores e um prejuízo da dívida pública de 100 bilhões de Cruzados, e o afastamento
72 do Chefe do Departamento Regional do Banco Central em Salvador por submis-
são à política de Antonio Carlos Magalhães. Porém, nenhum outro fato pesou tanto
em sua trajetória como a ligação com megaespeculador Naji Nahas.
Dono de 27 empresas, Nahas entrou para a história dos golpes financeiros do
país em 9 de junho de 89. Naquele dia, ninguém nas Bolsas de Valores do Rio e de São
Paulo foi capaz de prever os resultados de suas operações no mercado. A Bolsa de São
Paulo despencou 5,6% e a do Rio caiu outros 4,5% depois que estouraram na praça che-
ques sem fundos de Nahas no valor de 39 milhões de cruzados novos (cerca de R$ 51,45
milhões, hoje).
Em 6 e 12 de julho, a Polícia Federal indiciou Nahas por crime de “colarinho branco”
e estelionato. Pouco depois, o relatório final da Comissão de Valores Mobiliários o acusou de
usar “laranjas” para manipular preços de ações. Outro investidor apontado como participante