Re-pensar o “status quo” é preciso!

Enviado em 22/09/2010 às 14:21

Acho esse tema fundamental. Ele nos permite limpar um pouco o entulho que se formou na administração pública a partir das novas metodologias de gestão fundadas no que hoje mistificam como busca de resultados.

Toda essa tendência de aplicar no serviço público a lógica da iniciativa privada tem produzido uma enxurrada de discursos, contratos com consultorias, sistemas de controle, estruturas de controle, carreando para departamentos da moda uma infinidade de cargos, recursos tecnológicos, verbas, etc.

A imagem que melhor define essa nova estratégia de gestão é, caricaturalmente, a de um burrinho acossado por uma cenoura que lhe ameaça os fundilhos e outra que lhe instiga o apetite, que lhe balançam à frente. O que importa são os indicadores de desempenho, as metas a alcançar, os projetos, as estatísticas.

Ocorre que o serviço público não é isso. O servidor público menos ainda. Quando estudamos para um concurso público nos informamos o suficiente para saber o que é ser um representante do Estado. Isso implica princípios, defesa do interesse público, inclusive, quando for necessário, confronto na linha hierárquica para sustentar tais princípios.

Quando cada servidor público se mantém imbuído dessa missão, torna-se um sujeito causado e não um boizinho de presépio, ou um burrinho acossado pela hierarquia ou pela meta. Quando cada servidor sabe a atribuição e os fins públicos a que serve, instala-se no serviço público toda uma rede de pessoas motivadas, comprometidas, cada qual empenhada em fazer o melhor, inclusive controlando os colegas lenientes, interpelando as chefias equivocadas, buscando os objetivos legais aos quais se submete.

Encarar a cultura organizacional no serviço público hoje é esse desafio de resgatar a essencialidade do fim público, do valor do representante do Estado, varrendo essa ideologia sectária e pueril que crê substituir toda a solidariedade humana entre colegas, o comprometimento visceral que um servidor causado tem, por tecnologias de controle, cujo efeito mistificador é a ascenção de uma cúpula de notáveis, falsamente controlando os burrinhos acossados pelas medidas.

Sem levar em conta que se for retirado do servidor isso que é sua essencialidade, restam estatísticas forjadas, índices fabricados, escamoteamentos de resultados, em geral de atingimento de metas que nem sequer guardam relação com os fins públicos. Sem contar o quanto se onera o serviço público com reuniões e mais reuniões, viagens, estruturas para responder as estruturas de controle, sistemas que, em geral, são propostos, desenvolvidos, consomem milhões e são esquecidos sem qualquer préstimo ao serviço público.

Realmente, falar em cultura organizacional passa pelo resgate da autoria, do sevidor público enquanto representante do estado – e isso é uma ética que ultrapassa em muito os tais valores organizacionais hoje tão em moda; implica em devolver ao servidor sua autonomia analítica, o reconhecimento de seus atributos técnicos e de seu alinhamento ideológico com a defesa dos interesses públicos e não da moda da hora.

Afonso Vitor/avitor – Decap BH

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