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PAULO EDUARDO DE FREITAS*

Pleno emprego é
missão para o BC

    A violência é um dos maiores temores que toma conta       Não se trata de uma solução apenas no plano individual.
das pessoas. Ela já foi até globalizada e é muito semelhante  Ainda que efetiva, é insuficiente. Mais que isso, pode e, a
à violência local. A diferença fica por conta da escala e da  meu ver, deve ser coletiva. E o coletivo está aqui, bem
sofisticação dos meios. Trazem em comum a banalização         perto. Propostas precisam ser construídas.
da morte (é da morte mesmo, como por outro já foi dito).
Na violência estão evaporados valores de base social e            O momento é especialmente exigente. A década de
humanista, pois ela se estabelece na ausência de              90, governada pelo conhecido Consenso de Washington,
negociação, de concessão, de reconhecimentos, de acordo,      chega ao seu fim melancolicamente, para os países que
de oportunidades, de perspectiva, de relativização. Pense     sofreram as suas conseqüências. Como demonstração
nas torres gêmeas de Nova Iorque e na carnificina no          mais acabada do seu fracasso, olhe para a Argentina. Justo
Afeganistão. Pense no assassinato numa esquina, de uma        ela que fez, como nenhum outro país, a tal lição de casa
cidade qualquer. A violência, com a escala já atingida, é a   (hoje, certamente, a expressão mais odiada por lá). Sem
face visível da barbárie.                                     qualquer poupança interna e com o Estado arriado,
                                                              chegou à humilhação das humilhações ao pedir ao Brasil
    A barbárie é construída pelo mundo culto,                 que negocie a dívida externa por ela. O Brasil, graças a
primordialmente, via processos políticos cada vez mais        uma resistência interna mais forte e melhor articulada,
insolúveis e processos econômicos e sociais cada vez          ainda respira. Mas o Consenso de Washington,
mais excludentes.                                             neoliberalismo, estado mínimo, massacre dos servidores
                                                              públicos, privatizações desenfreadas, concentração de
    A generalização e a amplificação da violência é o         renda, e outras medidas análogas, como propostas estão
grande retrato da degeneração que os sistemas atuais          descartadas. Isso cria a necessidade de um novo rumo
podem proporcionar. A degeneração não é só externa,           para o País. No vácuo não pode ficar.
como pode se supor, num processo de auto-alívio; é
interna a cada um de nós. A violência, sabem todos, está          O momento é, também, especialmente oportuno. O
não apenas na morte irracional provocada mas na fome,         Brasil entra no período preparatório das eleições. É hora
no desemprego (do ponto de vista social, o maior flagelo      de escolhas, de elaboração de propostas, de foriar um outro
para as pessoas sem outra renda), no analfabetismo de         projeto. Para que contribua para a reversão da barbárie, o
todo tipo, nas doenças resultantes de carências, na           projeto deve ser, propomos, na linha do desenvolvimento,
concentração de renda, na degradação da vida, nos             emprego e cidadania. O Banco Central precisa ter suas
processos que levam a endividamento por medo,                 políticas redirecionadas. Por que não incluir a busca do
vergonha e injustiça em perder padrão de vida, dentre         pleno emprego como missão do Banco Central ? Nós,
tantas outras causas.                                         funcionários do Banco Central, temos a responsabilidade
                                                              de dar uma contribuição ao País.
         Pasmo não se pode ficar. Todos podem participar
de iniciativas ao seu alcance para modificar o quadro               É chegada a hora de encararmos o desafio. El3
presente, certamente mais complexo e diversificado que
a visão de um determinado prisma pode proporcionar.                                   (*) Ex-presidente nacional da AFBC
                                                                                        e ex-presidente nacional do Sinal

                                                              �õcrn:iDoutubro 2001                                         27
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